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Aos poucos, vou perdendo a língua dos homens, tomado pelo sotaque do chão. Na luminosa varanda deixo meu último sonho, a árvore de frangipani. Vou ficando do som das pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou dormir mais quieto que a morte. A Varanda do Frangipani |
Dados Biográficos |
Nascido na Beira (Moçambique), a 5/7/1955, Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos que escrevem em português. Este estatuto incontestado deve-se não só á forma como descreve e trata os problemas e a vida quotidiana do Moçambique contemporâneo, mas principalmente á inventiva poética da sua escrita, numa permanente descoberta de novas palavras através de um processo de mestiçagem entre o português "culto" e as várias formas e variantes dialectais introduzidas pelas populações moçambicanas. Mia é assim uma espécie de mágico da língua, criando, apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa em novas e inesperadas direcções. Tem, devido a essa autêntica revolução de inventiva linguística, sido muito apropriadamente comparado a um outro grande mágico da Língua Portuguesa do século XX, o escritor brasileiro João Guimarães Rosa.
Mia Couto foi desde 1974 e durante vários anos, director da Agência de Informação de Moçambique, seguidamente dirigiu o jornal Noticias de Maputo e a revista Tempo.
Posteriormente, estudou medicina e biologia e é actualmente biólogo na reserva natural da Ilha da Inhaca, em Moçambique.
A escrita tem sido no entanto uma paixão constante, desde a poesia, com que se estreou em 1983, até á escrita jornalística e á prosa de ficção. A questão do género literário não é, de resto, a mais importante para um autor cuja escrita prosa e poesia se contaminam e que escreve "pelo prazer de desarrumar a língua".
Questões mais importantes relacionadas com sua obra são as relacionadas com a vida do povo moçambicano, um dos mais pobres e martirizados do mundo, recém-saido de 30 anos de guerra civil e onde persiste uma forte tradição de transmissão da literatura e dos saberes essencialmente por via oral. Numa cultura onde se diz que "cada velho que morre é uma biblioteca que arde", Mia empreende uma escrita que liga a tradição oral africana á tradição literária ocidental, tal como no seu trabalho de biólogo liga, no estudo da floresta, o saber ancestral dos anciãos sobre o espirito das árvores e das plantas á moderna ciência da Ecologia. Essencial, num caso como noutro, é sempre a relação mais profunda entre o humano e a terra, entre um humano e outro humano, por vezes nas suas condições mais extremas.
Obra |
Poesia: | |
A Raiz de Orvalho (1983) | |
Crónica: | |
Cronicando (1986) | |
Contos: | |
Vozes Anoitecidas (1986) | |
Cada Homem É Uma Raça (1990) | |
Estórias Abensonhadas (1994) | |
Contos do Nascer da Terra (1997) | |
Romance: | |
Terra Sonâmbula (1992) | |
A Varanda de Frangipani (1996) | |
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Mar me quer (1997) (Colecção 98 Mares, Expo98) | |
Prémios |
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Comentários |
O livro Terra Sonâmbula, do moçambicano Mia Couto, é prosa experimental, modernista, como há muito não se via em português. Talvez desde os anos 60, quando Guimarães Rosa explorava o Grande Sertão influencia declarada de Mia Couto. ( )Além de seu próprio talento, um cenário cultural legitima a experimentação do autor: a variedade de etnias e idiomas de Moçambique, que ainda estão por se incorporar a uma literatura em formação.
Estado de S. Paulo
Vozes Anoitecidas são doze histórias de amor á nação moçambicana e á Língua Portuguesa. Doze histórias que compõem um dos livros mais fascinantes que me foi dado a ler nos últimos anos.
José Eduardo Agualusa
Mia Couto trouxe á língua a frescura da invenção e o contacto com o fantástico caldeirão que ela é falada e escrita por muitas e variadas gentes.
José Saramago
Livros |
A Varanda de Frangipani A narrativa
desta obra decorre na Fortaleza de S. Nicolau, algures em Moçambique. A fortaleza há
muito que deixou de ser reduto de defesa e ocupação estrangeira para se transformar num
asilo de velhos. A trama policial, as reflexões sobre a guerra e sobre a paz, o Universo
mágico, a riqueza de personagens, aliados a uma narrativa pujante e amadurecida, fazem
deste livro uma das mais belas obras de Mia Couto. 1996 |
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Contos do Nascer da Terra "Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou á dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa. Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrespou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário em todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares".1997 |
Outros Sites |
http://festival.zero.cz/couto.html
www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000113.html
www.liv-arcoiris.pt/bienal98/bibibliografia/paginas/miacouto.html