José Eduardo Agualusa !

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José Eduardo Agualusa !

Foi o impulso biológico da propagação da raça que empurrou as caravelas portuguesas. estamos em África, na América e no Oriente pelo mesmo motivo que os fungos se alastram ou os coelhos copulam – porque no intimo sabemos ( o nosso corpo sabe-o) que colonizar é sobreviver! (...) Desgraçadamente, Portugal espalha-se, não coloniza (...) Pior: uma estranha perversão faz com que os esqueçam a sua missão civilizadora, isto é, colonizadora, mas depressa se deixem eles próprios colonizar, isto é, descivilizar, pelos povos locais.

Nação Crioula

 

 
Dados Biográficos

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          Surgido na década de 90 como um dos nomes de ponta da nova literatura africana em língua portuguesa e um dos autores mais importantes surgidos em Angola na última década, José Eduardo Agualusa nasceu a 13 de Dezembro de 1960 na cidade de Huambo, planalto central de Angola. Estudou agronomia e silvicultura. Actualmente, Agualusa reside em Luanda, onde é correspondente do jornal Público e da RDP África. É membro da União de Escritores Angolanos.

        Se existe uma palavra que possa caracterizar a obra e a personalidade de José Eduardo Agualusa, essa palavra é sem dúvida a palavra crioulo: crioulo é, para Agualusa, uma afirmação de raízes que contém em si todo um projecto de futuro, de possibilidade de afirmação de valores culturais angolanos e das culturas africanas e colonizadas em geral.

        Agualusa é, ele próprio, o exemplo por excelência do crioulo: com ascendência angolana, portuguesa, brasileira e, mesmo dentro de Angola, com raízes em diferentes regiões, está, de facto tão em casa em Lisboa como em Luanda ou no Pantanal do Brasil. Do mesmo modo, a sua escrita está tão à vontade com a inovação semântica e estilística que as literaturas africanas têm imprimido á língua portuguesa como com a utilização que dela é feita pelos seus maiores clássicos, como Eça de Queiroz, que o autor recria magistralmente no seu último romance, Nação Crioula.

        A sua estreia como escritor fez-se com o romance A Conjura (1989), que foi a primeira obra literária angolana a debruçar-se sobre a sociedade crioula de Luanda no século XIX, destacando-se ainda na restante obra, pela importância da análise e do testemunho nunca até então dado sobre a história angolana recente, o romance Estações das Chuvas.

 

Obra

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Ficção:
A Conjura (1989)
D. Nicolau Água-Rosada e Outras Estórias Verdadeiras (1990)
A Feira dos Assombrados (1992)
Estação das Chuvas (1997)
Nação Crioula (1997)

Poesia:
Coração dos Bosques (1991)

Reportagem:
Lisboa Africana (com Fernando Semedo e Elza Rocha(fotos)), (1993)

 

Prémios

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  • Prémio Sonangol de Literatura (Angola), 1989 (A Conjura)
  • Prémio de Jornalismo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
  • Grande Prémio Literário RTP, (Portugal), 1997 (Nação Crioula)

 

Comentários

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"Assustador e envolvente, Estação das Chuvas não perdoa a nada nem a ninguém, e num ritmo por vezes alucinante, tão depressa nos mostra o lado luminoso, de maravilhamento de Angola, como o seu lado sombrio e de horror. Implacável."

Maria Teresa Horta
Diário de Noticias

 

"José Eduardo Agualusa - um africano crioulo por excelência, que anda por aí por Portugal – acaba de escrever um romance, Estação das Chuvas, que pode considerar-se, sem receio, a mais notável obra sobre a história contemporânea de Angola (...) A personagem de Lídia do Carmo Ferreira assistiu a tudo e tudo sofreu, inclusive a cadeia. Não escandaliza que a consideremos uma das criações literárias mais comoventes da moderna literatura escrita em português. Não espanta também que haja pessoas que fizeram chegar ao autor a informação de que a haviam conhecido (...)Nada pode ser, para este escritor, mais elogioso para este equívoco. Porque Lídia nunca existiu, mas existe como heterónimo de personalidades reais (...) Agualusa está criando um universo ficcional autónomo (...) Isto é: Agualusa está tentando o que apenas alguns grandes criadores ousaram: transportar gente através do espaço e do tempo."

Torcato Sepúlveda
Público

 

"Um belo romance, o do meu patrício Agualusa. Em Portugal, quem quiser saber política e economicamente sobre Angola, deve recorrer ao Diário de Notícias, e ler o seu correspondente para a África Austral (...); quem quiser saber culturalmente de Angola, leia o José Eduardo Agualusa no Público."

Ferreira Fernandes
Diário de Noticias

 

Entrevistas

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Somos todos descobridores

Cinco séculos depois de Cabral, José Eduardo Agualusa alerta que o Brasil precisa redescobrir África. Para o escritor angolano, a América, a Europa e o continente africano só têm a ganhar com a rniscigenação.

José Eduardo Agualusa

Em 1997 estive no Recife a convite da I Bienal do Livro de Pernambuco. Uma tarde entrei num taxi, companhia do escritor angolano Jackes dos Santos, do adido cultural de Angola em Brasília, Bito Pacheco, e de uma historiadora brasileira. No dia seguinte o taxista encontrou em Olinda o marido da minha amiga e logo o informou:

- Ontem transportei tua mulher e três gringos que estavam tentando falar português.

Um outro taxista estranhou o meu sotaque: - Você é de onde?

Disse-Ihe que era de Angola.

- Angola? - admirou-se ele - e em que Estado fica isso?

Quando lhe expliquei que em Angola, pais com onze milhões de habitantes, situado na costa ocidental de África, exactamente do lado de Iá do Oceano Atlântico, também, e fala português, o espanto dele aumentou:

- Verdade? Pensei que só no Brasil se falasse português.

Estes dois episódios ilustram a falta de informação do brasileiro médio relativamente a África. Ignorância perversa: o Brasil é, claramente, uma nação de matriz africana (luso-africana). 0 negro, porém, continua associado A escravidão e a pobreza, e ele próprio tem tendência a iludir a sua origem. 0 Brasil necessita de redescobrir África, na vitalidade da sua cultura moderna, pois só assim Os brasileiros de origem africana poderão recuperar o orgulho e a dignidade.

Entre Os marinheiros de Pedro Alvares Cabral que, vai para quinhentos anos, avistaram Os verdes morros do Brasil (ou melhor, daquilo que depois seria o Brasil), provavelmente já haveria africanos. "Nos começos do século 16 os marinheiros negros trabalhavam lado a lado com os brancos, nalguns barcos", escreveu o historiador A. C. Saunders em História Social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441 - 1555) (imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1994). Saunders baseou-se sobretudo no estudo de documentos guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. "Na caravela Santa Maria das Neves, que fazia carreira entre Lisboa e Cantor, na Gâmbia, nos anos 1505 a 1506, sete dos catorze grumetes eram negros, assim come um dos seus nove marinheiros. Em termos de pagamento não era feito qualquer distinção entre brancos e negros, tendo um grumete de cor negra sido promovido a marinheiro durante 0 serviço prestado em terras estrangeiras, ficando assim & haver dois marinheiros negros na tripulação.

Os africanos e afro-descendentes participaram, desde o inicio, no processo de formação da nacionalidade brasileira. Não por acaso as manifestações da cultura brasileira que impuseram o pais no exterior são, na sua essência, de Origem africana: a musica popular, o carnaval, ou o poderoso universo literário de Jorge Amado.

Apesar disso, e sem perceberem que dessa forma se submetem, uma vez mais, ao poder do preconceito Os afro-brasileiros preferem voltar-se para os Estados Unidos - em busca de uma identidade negra da qual possam sentir orgulho, do que olhar para África. Assistirmos assim, desde a anos, à importação de conceitos desajustados da realidade brasileira. Ainda mais Irónico: alguns desses conceitos estão também já desajustados nos Estados Unidos, pais que, com séculos de atraso, começa agora a transformar-se, como toda a América Latina, numa imensa nação crioula. Estudos recentes comprovam que no próximo século a maioria dos norte-americanos serão mestiços. Um número crescente de intelectuais afro-americanos vem defendendo o estudo das sociedades crioulas da América Latina em busca de um modelo para o futuro.

No seu espaço geográfico, a América Latina, o Brasil destaca-se como o pais melhor colocado para refazer Os laces com África pois, excluindo a minúscula Guiné-Equatorial, não existe naquele continente nenhuma outra nação de língua espanhola. Em contrapartida há em África Cinco países de fala portuguesa, todos eles formadores da identidade brasileira, e todos, sem excepção, de coração aberto relativamente ao Brasil - em Cabo Verde, por exemplo, as composições de Waldir Azevedo estão completamente integradas no rico património musical do arquipélago (tornaram-se cabo-verdianas). Já em Angola a memória de algumas telenovelas brasileiras permanece na toponímia. de Luanda: o mais famoso mercado da capital, 0 maior mercado aberto de África, chama-se Roque Santeiro e ha' outros com nomes como Os Trapalhões., Beato Salú, etc...

Cinco séculos depois de Cabral ter aportado ao Brasil somos todos descobridores - ou melhor, redescobridores. Portugal tem vindo a reencontrar-se com África e hoje, por paradoxal que pareça, os portugueses estão muito mais bem informados acerca do grande continente negro do que estavam durante a época colonial. Os africanos, por sua vez, redescobrem Portugal. Sabe-se que em séculos anteriores a presença africana foi muito forte em diversas cidades portuguesas. No século 16 cerca de dez por cento da população de Lisboa era de origem africana. Num livro fascinante, O Fado: Canção Lisboa, dançar do Brasil (Editorial Caminho, Lisboa, 1996), o pesquisador José Ramos Tinhorão foi à procura das raízes do fado, canção que se tornou num símbolo de Portugal, e encontrou-as: são afro-brasileiras.

A percentagem de africanos no conjunto da população de Lisboa é actualmente mais elevada do que nunca: em torno de doze por cento. A moderna música popular portuguesa (para ficar apenas no campo da música popular, expressão cultural de alcance mais imediato do que, per exemplo, a literatura) tem vindo a enfraquecer-se em contacto com os diferentes sons vindos de África. Observadores atentos desta realidade, como a compositor e produtor David Byrne, já compreendera que é nos bares e nas discotecas de Lisboa (num ambiente onde se misturam africanos, portugueses e brasileiros) que se prepara alguma da melhor musica do século 21.

Neste cenário falta apenas que o Brasil assuma plenamente 0 seu destino lusófono e que lance, mar fora, a descoberta de Portugal e da África que fala português. 0 embaixador José Aparecido de Oliveira, um dos homens que mais se tem batido pelos ideais da lusofonia, firmou com esse objectivo alicerces da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, instituição que não vingou (ainda não vingou), porque interesses estranhos afastaram o ideólogo da coisa ideada. Instituições como a CPLP servem, ou deviam servir, para articular as aspirações dos povos, Não sendo assim, resta a esperança de que em todo o vasto espaço da Lusofonia, incluindo o Brasil, a sociedade civil se substitua com sucesso às instituições.

Noticiário Cultural (Brasil)
14 de Novembro de 1998

 

Livros

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Nação Crioula ! Nação Crioula

     O autor, recria Fradique Mendes, personagem de Eça de Queiroz, que vive entre África, Portugal e Brasil nos finais do século XIX. A obra envolve personagens reais e de ficção.
159 páginas
1997

Estação das Chuvas ! Estação das Chuvas

Romance Ficcional
279 páginas
1997

 

Outros Sites

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www.liv-arcoiris.pt/bienal98/bibliografia/paginas/agualusa.html

www.instituto-camoes.pt/noticiario/somosdescobrd.htm

www.bravoshooping.com/bravoshop/naccroulbra.html


Última Actualização: 27-10-2011
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