Germano Almeida !

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Germano Almeida !

     O ilustre causídico, ele mesmo poeta satírico e com diversa publicação sob um pseudónimo respeitável (...) era conhecido como um grande admirador de Camões e raríssimas eram as alegações finais em que não recitava pelo menos um soneto inteiro, por vezes até dois, se achava necessário melhor impressionar os juizes, daquele que, com largos gestos teatrais, invocava como amargurado mas para sempre imorredoiro vate.

Os Dois Irmãos

 

 
Dados Biográficos

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         Germano Almeida, um dos nomes de proa da moderna literatura cabo-verdiana, nasceu na ilha da Boavista, Cabo Verde, em 1945. Licenciou-se em Direito pela Universidade Clássica. Vive na ilha de São Vicente, onde exerce actualmente a profissão de advogado, tendo já desempenhado funções como Procurador da República.

         O gosto pela escrita e pelo jornalismo tem acompanhado desde sempre a sua vida profissional. Para além da produção literária, tem sido responsável por projectos tão importantes da vida cultural cabo-verdiana como a fundação, com Rui Figueiredo e Leão Lopes, da revista Ponto & Virgula, do jornal Aguaviva, de que é co-proprietário e director, e da Ilhéu Editora. Colabora ainda habitualmente no diário português Público.

         Usando magistralmente as armas do humor, desde a mais fina ironia até ao sarcasmo mais declarado, a obra de Germano Almeida desmascara a hipocrisia reinante na vida pública e privada da sociedade cabo-verdiana que, vista através da sua lupa satírica, se transforma, no fundo, num paradigma de qualquer sociedade.

 

Obra

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O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo (1989)
O Meu Poeta (1990)
O Dia das Calças Roladas (1992)
A Ilha Fantástica (1994)
Os Dois Irmãos (1994)
Estórias de Dentro de Casa (1996)
A Família Trago (1998)
Estórias Contadas

 

Prémios

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  • Prémio do Instituto Marquês de Valle-Flor (1991)
  • Prémio Crítica da Imprensa de S. Paulo (1996)

 

Comentários

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Com Germano Almeida, a literatura cabo-verdiana liberta-se em definitivo de Claridade, deitando-se para trás das costas o tom heróico dosa grandes problemas sociais, das secas e das fomes, da miséria infida do povo sofredor. É que esse mesmo povo tem uma capacidade imensa de gozar a vida, de rir-se de si ou do outro, tanto faz. E Germano Almeida é o primeiro(...) Porque tudo se cura pelo riso, e nada produz mais resíduos que uma sociedade em digestão acelerada de tantas influencias, em marcha forçada para superar traumas e atrasos.

Clara Seabra
Expresso

As personagens do livro de Germano Almeida oferecem-nos momentos de inolvidável ternura e nos amarram num incutido encantamento. Levam-nos á descoberta de outras geografias emocionais. Deixam-nos habitar a ilha que assistiu, de forma comovente, á derrocada das suas figuras emblemáticas. (...) A ironia denuncia um excelente virtuosismo. O português deixa-se miscigenar com o crioulo. (...) Tudo isto faz deste A Ilha Fantástica um acontecimento notável entre o que se escreve em língua portuguesa.

Público

Os Dois Irmãos em retracto incisivo e implicado da sociedade cabo-verdiana, repartida entre modernidade e tradição, entre a ruralidade e urbe, entre isolamento e comunicação. Um retracto crítico mas não doutrinário, um alerta cru sem ser moralista, uma mão cheia de apontamentos antropológicas sobre uma comunidade que começa a percebes o ónus de se abrir ao mundo, com as interferências e mutações drásticas, que tal pressupõe.

António Loja Neves
Expresso

 

Entrevistas

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Barbeiro

Conheci Barbeiro quando cumpria 20 dias de prisão disciplinar agravada que tinha sido condenado. Ele era um rapaz baixote e gorduchinho, bonacheirão e sorridente e aguardava julgamento por ter esfaqueado um oficial que lhe dera uma bofetada em plena formatura. Foi só um cortezinho, ria-se ele, não deve valer mais de dez anos. Continuava exercendo o seu mister, tendo transformado a cela numa autentica barbearia.

Nessa altura, éramos uns quatro ou cinco presos, incluindo um emigrante refractário ido de França a Portugal em férias e apanhado numa rusga policial. Barbeiro detestava-o, porque permitira-se pôr em causa o seu corte de cabelo, comparando-o mesmo a uma tosquia mal-amanhada.

Só Barbeiro e eu habitávamos celas individuais: ele por complacência, eu por castigo! Mas raramente os sargentos de dia cumpriam a risca os regulamentos e quase sempre deixavam-nos de porta aberta durante todo o dia. E assim, quando não estava a trabalhar, Barbeiro passava o tempo comigo, porque como o mais novo da prisão, era o único que ainda não tinha ouvido todo o repertório de anedotas que ele despejava uma atras das outras, rindo-se tanto como eu das piadas que contava.

Essa camaradagem levou o certo dia a confidencia: Tinha eu já reparado que, nos dias em que estava de serviço um certo sargento, todas as celas eram trancadas depois de almoço e ate ao fim da tarde? Sim, por acaso tinha! Alias, aquele era o único sargento que obrigava o pessoal a dormir a sesta, deixando, no entanto, as celas abertas pela noite fora. Pois, explicou Barbeiro a meia-voz, isso era porque ele e o sargento eram amigos de infância e o fulano permitia-lhe receber na cela a visita da mulher.

Além do ferrolho, todas as celas tinham postigo que se abria do lado de fora. Ora o sargento deixava a mulher do Barbeiro entrar, dava um tempo e ia espreitar pelo postigo.

Barbeiro não chegou a dizer se desconfiou de alguma coisa, mas o certo é que um dia tapou o postigo com um lenço. Ora o sargento não estava preparado para aquela cortina a impedir-Ihe a visão e desesperou-se. E como recurso de emergência aplicou-lhe a ponta do cigarro.

A sua ideia devia se abrir uma pequena nesga, mas infelizmente o lenço continuou a arder, lenta mas inexoravelmente. Em pânico, 0 sargento fugiu.

De dentro Barbeiro deu pelo fumo e começou aos berros e encontrões à porta. 0 sargento começou a fazer-se surdo, mas diante de tanto alarido ele teve que regressar e tomar conhecimento da confusão.

Abriu a cela do Barbeiro para saber o que se passava, mas esse passou por ele como um bólide, brandindo a navalha de barba, afirmando-se disposto a matar 0 bandido que...

Atrás dele, o atordoado sargento aconselhava calma com voz fraca, ele ia investigar, saber quem tinha sido o prevaricador. Mas Barbeiro não o ouvia. Destrancou a minha cela, parou um pouco a porta, tranquilizou-me com um piscar de olho e entrou de navalha em riste: Hoje eu faço uma asneira, hoje mato o cabrão! E explicou-me o que se tinha passado. Mas teve o cuidado de completamente ilibar o sargento de toda a responsabilidade no sucedido. Os presos também, fiz-lhe ver. Estavam todos fechados. Quem então, perguntou, piscando-me de novo os olhos. Combustão espontânea, sugeri-Ihe. Mas também pode ter sido milagre, às vezes acontece. 0 sargento suspirou aliviado, quando viu Barbeiro aceitar essa hipótese como provável.

Foi depois dessa cena que o Emigrante me desafiou para fulgirmos. Explicou-me honestamente que a fuga teria de ser a partir da minha cela, que era a que ficava na extremidade mais isolada. E teria de ser numa noite em que estivesse de serviço o sargento do Barbeiro, que era o único que nunca fechava as celas de noite. Ele tinha tudo organizado, disse, um carro iria buscar-nos a hora combinada. Quando dessem o sinal separaríamos as grades. De manha cedo, já estaríamos em Espanha.

Concordei. Porem, na noite aprazada Barbeiro adoeceu gravemente. Desde o recolher que ele não tem mais sossego, gritando feito um desalmado, com dores horrorosas em todo o corpo, falta de ar, palpitações no coração. No entanto, mal o sargento entrava, ele acalmava-se, dizia-se já melhor. Mas apenas para meia hora depois começar de novo a gemer em altos brados, parecendo as portas da morte. Foi uma noite terrível em que todos os presos se mantiveram acordados porque Barbeiro só viria a ter descanso já depois do toque da alvorada. A fuga ficou completamente impossível.

De manha, Barbeiro entrou na minha cela. Estava fresco e sem sinais da noite tão mal passada. Já está melhor, perguntei-lhe solicito. Sim, já estou fino, respondeu com um sorriso que não entendi logo. Mas, pouco depois, perguntou-me baixinho: Estas muito zangado comigo? Porque, estranhei. Ora, o tu sabes bem porque, respondeu. E tu, como soubeste, perguntei-lhe. Toda a gente sabia, riu-se, está no ar. Olha, continuou, se fosse um outro eu não me teria importado, mas fazer isso ao meu sargento...! Pensei que tivesses deixado de gostar dele por te ter espreitado com a tua mulher, disse-lhe agastado, mas Barbeiro sorriu: É uma amizade de muitos anos, retorquiu, e preguei-lhe um grande cagaço, fingindo que queria matar um de vocês.

Arquivos de Literaura (Público)
5 de Abril de 1998

 

Livros

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O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo !

O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo

    Quando morreu, o Sr Napumoceno era um conceituado comerciante do Mindelo. A reputação da sua casa comercial tinha uma correspondência perfeita na sua reputação pessoal – bom, integro, sério, sem vícios, rico e respeitado. Mas a leitura das centenas de páginas do seu testamento lançou "uma nova luz sobre a vida e a pessoa do ilustre extinto". Página a página o leitor vai assistindo á construção de uma personagem fascinante, rica, complexa, contraditória, fortemente enquadrada no pano d fundo que é a sociedade cabo-verdiana.
1989

A Família Trago !

A Família Trago

"A Família Trago", o romance mais recente do escritor cabo-verdiano, conta-nos, ao correr da pena de um narrador de características muito particulares, a saga da família Trago ao longo de várias gerações. Numa escrita forte e de impressionante fôlego, o autor conduz-nos, através dos tempos, numa viagem aliciente e absorvente, ao longo de uma família e ao pulsar de um arquipélago profundamente ligados, revelando-os em pinceladas energéticas, coloridas, pitorescas, ás vezes dolorosas, ás vezes enternecedoras.
1998

Estórias Contadas !

Estórias Contadas

Todos os dias nos acontecem coisas. Boas e más, banais, inesperadas, agradáveis ou dolorosas. Mas de quase todas sempre registamos um pormenor, um som, uma cor, um eco, uma memória. São estas coisas do dia-a-dia que Germano Almeida reuniu em Estórias Contadas. No seu estilo narrativo tão peculiar, transformou apontamentos casuais, factos, acontecimentos, acasos, em crónicas deliciosas, vivas, aliciantes. Numa prosa saborosíssima, protagonizada por um humor permanente e subtil, e finíssima ironia, as páginas sucedem-se, irresistíveis, e damos connosco a sofrer com os agravos de um escritor, a disputar uma certa cadeira com Gabriela , a vibrar com as surpresas do futebol, a reflectir os feitiços do tabaco, a ... Cinquenta e cinco crónicas que se lêem de um fôlego, estas Estórias Contadas proporcionarão ao leitor um encontro particular com aquele que supomos ser o mundo de todos os dias ... mas que ainda nos pode surpreender!

 

Outros Sites

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www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000088.html

www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000146.html

www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000149.html

www.instituto-camoes.pt/arqvliteratura/barbeiro.htm

www.liv-arcoiris.pt/bienal98/bibibliografia/paginas/germano.html


Última Actualização: 27-10-2011
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